quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Trecho de vida

Decolei do aeroporto la de casa e perdi a chave.
Junto com ela perdi a memória.
Longe de casa estou confuso, requieto por dentro e quieto por fora.

Passei na lanchonete, comi um americano diferente. O hamburguer parecia rosbife e a o alface em demasia. Pança cheia, hora de beber. O primeiro copo gera uma reação em cadeia para os próximos.
Agora estou confuso, requieto, quieto e quase embreagado.

Meti o ingresso da festa na algibeira, entrei no carro e parti. Drink, drink. Já sei!
Agora estou requieto por fora e por dentro e embreagado.

Falsifiquei a pulseira do back stage e tive livre acesso ao fantastico mundo do wisk com red bull. Todos tiveram a mesma idéia e me acompanharam na metamorfose da fuleiragem.
Destruição do corpo. Como foi? não lembro, só sei que foi massa.

Um junky colou do meu lado e disse: Eu vou ter uma parada cardíaca....ahhhhhhhhrrrrrrrrr.....
E saiu feito hiena. Assustador. O wisk devia ser água naquele corpo tóxico. Dái olhei pro lado e vi centenas como ele. Milhares, talvez.

De repente notei que o dia amanhecia. Opa!! O planeta está girando, minha cabeça está girando, as pessoas estao girando, a música. Pensei na chave que havia perdido, no lanche que havia comido, nos meus pais dormindo no silêncio do bairro, no trabalho, no natal próximo, no futuro. Tudo num milésimo de segundo. E voltei pro momento, firmei os pés na terra e disse alto: vamos encher os copos! Agora é tarde pra voltar atras. Vou beber até morrer!

Na manhã seguinte ressucitei. Quieto por fora e por dentro. O quarto cheirava a cachaça curtida. Havia meias, braços, pés, casca de banana, garrafas, bitucas, rosnos, cachorro, e mais uma porrada de coisa que eu nem me importei em olhar pra não vomitar de ressaca. Procurei a geladeira e encontrei dois bagos bovinos, olhando melhor percebi que eram kiuis. Também vi um resto de cachorro quente, uma marmita destampada, uma garrafa de vodka e um pote de margarina Sol. Escolhi o kiui e cortei o dedão tentando descascar. Pensei nos meus cachorros, na minha mãe longe fazendo o almoço do domingo, nos brother´cups acordando, no pai do Le que estava doente, em uma porção de outras coisas, e comi o kiui.

Tinha um japones estranho na sala assistindo a luta do brasileiro Junior Cigano contra o croata Cro Cop (vitória do brasileiro). Enquanto isso o cachorro latia desesperadamente no quintal da casa e decidi ver o que estava acontecendo. O bicho preto amarrado no sol quente agonizava de sede e fome, mas não podia soltar porque ele pula e risca o carro do Feijó.

Tomei o avião de volta pra casa, achei a chave e encontrei a memória.
Estou tentando me centrar. Hoje é quarta-feira, último dia do mês de setembro do ano de 2009.
Vejo o mundo da janela.

2 comentários:

  1. odisséia da vida...
    dias e mais dias que passam pela janela, maldita hora que eu entrei na fila da racionalidade, mas e o cão??

    ResponderExcluir
  2. melhor texto...
    a tal desgraça que vira coisa linda...
    pensar o mundo é desconstruir toda nosssa rotina. Tenho medo de parar de pensar, tenho medo de começar.

    ResponderExcluir