terça-feira, 27 de abril de 2010

"O vento vai levando tudo embora"

Uma mulher preocupada em fazer uma depilação a laser, buzina incessantemente no trânsito para não perder a hora. Enfurecida ela cruza o sinal fechado e atropela um garoto preocupado em comer. A morte anuncia uma tempestade que dispersa os curiosos para debaixo de uma marquise. Dali o advogado segue caminho preocupado em atender seu cliente latrocida. O cliente preocupado em fumar um baseado telefona pra sua companheira na favela, preocupada em comprar eletroeletrônicos anunciados na televisão. Um forte raio atinge a torre de comunicação e interrompe a ligação. Tu tu tu...
A moça da favela permanece um instante confusa, olha por entre o vão da porta e vê a mãe do garoto atropelado, preocupada em conseguir o auxílio reclusão do seu marido preso. Um vento forte toma toda a favela fazendo tremer as encostas de lixo e lama.
A mãe corre pro seu barraco e se enche de inveja e ódio ao ver aquela linda casa do outro lado do morro, onde uma adolescente chora, preocupada com a acne. Seu pai a consola por 2 minutos e parte preocupado com a queda de rendimento da sua indústria de enlatados.
O dia estava coberto por sombras, mas por entre as nuvens, um lindo raio de sol ilumina o corpo ensanguentado do garoto, como se fosse o ator principal de uma peça teatral. Neste tempo estou preocupado em explodir. Sempre há algo com que se preocupar.
Enquanto isso, nossos corações estão batento. Sinta.

A ARTE DA MERDA QUE O CU IMPRIME NO PAPEL

Considere o seguinte:

A Arte – publicidade
A merda – produto
Cu – mídia
Papel – você

Depois de comer, seu corpo faz múltiplos esforços. O estômago recebe e processa as informações e remete o “diamante mau lapidado” para o intestino grosso. Este, por sua vez, interpreta os dados fornecidos pelo estômago, cria a pré-massa e manda pra finalização. No intestino delgado todo material indesejável é descartado e o bolo fecal é liberado pelo cu. Após, a merda é impressa no papel, e o papel descartado enquanto sujo.

Depois de observar seu comportamento, a publicidade faz inúmeros esforços. O atendimento recebe e processa as informações e remete o briefing para planejamento. Este, por sua vez, interpreta os dados fornecidos, faz a projeção da campanha e encaminha a idéia para a finalização. O departamento de criação descarta as idéias indesejáveis e a arte é liberada para a mídia. Após, a mensagem é veiculada, e você descartado enquanto ser humano.

A própria escolha da fuga te leva a um caminho conhecido. Não ser adepto a moda é moda. Tudo é consumo, tudo é vil. Eu sou um produto, você é um produto. Cada qual a sua embalagem. Egoísmo. Manobra. Suicídio e ressuscitação. Você morre e nasce a cada momento vão. Nasce para consumir, morre ao consumir. Desejos efêmeros. A pressão social. O LCD como um sonho bom, do qual o despertador te acorda para trabalhar. O desejo louco pelo sexo. A timidez que a mídia produz em você. O mundo esquálido, pálido, anêmico, silencioso. Tudo é convergência de alguma merda. Tudo que tinha pra ser feito e descoberto, já aconteceu. Agora o que resta é a evolução da tecnologia fútil e sua interpretação na medida que altera nossas vidas. Já sei. O mundo é a imagem e semelhança do Homem. Nasce, cresce, aparece, destrói, envelhece, morre. To cansado de tanta lamentação e de assistir ao grande show da desgraça humana. Eis o apocalipse. Hoje tudo isso é claro. Vejo a luz da verdade no final da caverna, mas não consigo alcançar. Me perco tentando encontrar.
Dê-me mais uma dose de morfina, por favor!!!!!

A única coisa que vale a pena nessa crônica fragmentada como eu, é o fato de eu tê-la vislumbrado enquanto limpava o cu.

domingo, 25 de abril de 2010

Como um pum!

Palavras que não significam nada! Não leia, isso é como a digestão do alimento, um sistema biológico vivo automático.
Ao tempo que escrevo, vivo. Distraído na tela ofuscante desse computador, gases explodindo no meu intestino.
Necessidade eminente de comer mais. Desejos. Tudo que está em ação, tudo que está reprimido. Eu = bloco.
O telefone toca, algum outro bloco quer falar comigo. Um minuto por favor.
Terminei, obrigado. Era Deus. Me ligou pra dizer que o apocalipse se aproxima. Respondi: Alguma novidade?
Enfim, mais um dose do mesmo. Lamento.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

IMPÉRIO DAS IMAGENS

Desde que Gutenberg imprimiu a primeira Bíblia em tipos móveis, no século XV, cada novo meio de comunicação de massa implica em novos estudos, ao passo que altera as relações e comportamentos humanos.
Entre os novos meios, cada qual com a sua peculiaridade, a televisão se destacou com imensurável poder de manipulação. À luz da tradição, somos resultado de uma cultura que privilegia a percepção visual como fonte principal de conhecimento. Nesta raiz, a televisão se consagrou com o poder de definir o que será ou não um acontecimento político ou mais amplamente social e cultural.
O ambiente tecnológico do final do século XX, criou percepções de tempo, espaço e cultura totalmente novos. Um acontecimento qualquer presenciado em carne e osso cria uma forma autêntica e completa de realidade. E a televisão com seu aparato tecnológico (trasmissão via satélite, multi câmeras, multi cores) reinvidica para si a capacidade de substituir o testemunho ocular, criando a sensação de realidade autêntica na consiciência do telespectador. Essa singularidade da televisão é uma forte ferramente de manipulação e construção de opinião.
Os acontecimentos do mundo são apresentados pela televisão numa velocidade espantosa. A fronteira entre o real e o fictício se enfraquece e a vida se transforma num grandioso espetáculo.
Este novo cenário, chamado por José Arbex (showrnalismo) de "império das imagens" altera totalmente a teia de relações entre os meios de comunicação e as instituições governamentais e privadas submersos no jogo de interesses diversos.
A cultura disseminada pela televisão está condicionada aos interesses da minoria dominante, ao entretenimento e a persuasão da consciência popular. ENGENGRA OPINIÃO, SIMULA DEMOCRACIA E INTERFERE DIRETAMENTE NO CURSO DA HISTÓRIA.
Os indivíduos que compõe a massa permanecem estagnados, isolados e unificados pela mídia.
Observando as problemáticas sociais que a televisão criou, trata-se de saber de que forma e medida esse novo cenário afeta o olhar, vida e a relação de um indivíduo com o mundo.

...estranho, enquanto escrevia esse texto a televisão estava ligada e não me sentia sozinho...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Diálogo de Fantoches

Narciso admirava sua imagem no espelho do rio; ainda não existia televisão.
O que seria a maioria silenciosa, senão Narcisos sentados sobre a bunda numa poltrona esquálida, defronte a tela iluminada?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Capital inicial

Aos 14 anos, no colégio, formei uma banda de rrrrock!
Tinha feito 2 aulas de guitarra com o Adriano Canga Tchanga Ré na Bola e já me considerava um guitarrista de vários festivais de bandas.
O repertório era de foder. Rage Against, Foo Fighters, Legião Urbana, Nirnava, Ozzy, Deep Purple, Guns, Raimundos, Tolerancia Zero, e por aí vai.
Eu tinha uma guitarra Golden de 300 conto que me custou três Natais, 7 dia das crianças e 22 aniversários.
O cabelão cumprido, tênis All Star, veste despojada, estudo abandonado e um maço de Shelton no bolso da camisa.
A primeira oportunidade que eu tive de tocar foi no festival de música do Anglo. Nossa banda era a última e não tocou porque as outras atrasaram e estourou o horário. Esse dia foi o meu primeiro porre. Me embreaguei de decepção, e até hoje venho fazendo isso.
O rrrrock e eu seguimos lado a lado, na saúde e na doença na riqueza e na pobreza, na tristesa e na alegria, não necessáriamente nessa ordem, até que a morte nos separe.
Porra, daí o tempo passou, e alguem me acordou do sonho.
Arrumei um emprego.