segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Em tempo, sem tempo

Estou numa canoa pesada, que desliza vagarosamente, à deriva, sobre as águas de um lago esquecido, escutando o barulho do cabelo nascer. Olho para o céu desanuviado e vejo o passado se fazendo presente. Egoísta e egocêntrico, o passado insiste em ser o futuro.
Qual a fórmula da ruptura?
Passeio por águas rasas, onde vejo com maior clareza o funddo do lago, e sinto medo das águas mais profundas, onde o fundo é desconhecido, e tudo parece subjetivo, distante da compreensão.
Um vento fresco me traz cheiro de eucaliptos, invadindo minhas lembranças, e o coração acelera, num segundo desacelera.
De repente me veio a consciência de que sou amor, em seguida que sou ódio, e receio a vida, assim como receio a morte. Que espécie de animal sou eu? Que não consegue ser uníssono? Dual, contraditório.
Porém, é sabido por mim que entender não é tão importante assim, sentir a paz desse lago basta.
Sou menino latino, criado no interior, humilde, peguei os remos cedo, naveguei sem bússula sob tempestades impiedosas, traçei um mapa de cicatrizes sobre a pele, pessoas me fizeram em pedaços, me reconstrui a partir da desconstrução, estou cada vez mais longe do porto, até completar a volta.
Sou este lago, galgando as encontas, louco por mais.

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